quarta-feira, 2 de abril de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

O Brasil se importa com o Acre?

Márcio Bittar

O Acre depende do Brasil, mas o Brasil parece não precisar do Acre. Esta é a conclusão que chegamos diante da indiferença que cerca a atual tragédia das cheia do Rio Madeira, que isolou o Acre do resto do país.
No dia 10 de março o Rio Acre alcançou a marca de 16,20 metros, deixando mais de 2.000 pessoas desabrigadas, no dia anterior uma das pontes de Rio Branco foi interditada por causa das grandes quantidades de galhos e troncos de árvores acumulados na sua pilastra.
 O Estado já está há 15 dias isolado. Em alguns postos de combustível já falta gasolina, gás de cozinha também começa a faltar na cidade. O abastecimento de alimentos perecíveis está sendo feito através de 3 aviões da FAB, além de 4 caminhões do Exército com suspensão elevada para transportar cargas nos trechos da BR-364, a lâmina d’água que cobre alguns pontos da BR chega a 80 cm. 
Diante do quadro caótico de desabastecimento e de perdas materiais que assola o Acre, salta aos olhos o silêncio de todos os órgãos que deveriam nos dar respostas sobre as causas estruturais que levaram à interdição na ligação terrestre do Estado do Acre.
Lembro que as obras da BR 364 foram interrompidas para conclusão de estudos ambientais. Tais estudos não indicaram o risco da estrada ser coberta pela água com enchentes no Rio Madeira? Não sabemos e não ouvimos nenhuma manifestação sobre o assunto. Diante da hipótese de que as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau possam ter ampliado a tragédia, por represarem o Madeira em Porto Velho, o mesmo silêncio imperou.
As ONGs, e os protagonistas de sempre, com suas velhas fórmulas para o desenvolvimento do Acre, permanecem calados, agindo como se a tragédia não lhes dissesse respeito. Demonstram só se lembrar do Estado quando se trata de ditar fórmulas alienígenas para cuidar das nossas florestas.
O Governo do Estado demonstra perplexidade com a dimensão da alagação e avisa que vai cobrar responsabilidades, esquecendo-se que o Acre está sendo governado pelo mesmo grupo político há 16 anos e que tem, portanto, sua parcela de responsabilidade.
A única atitude concreta foi tomada pela Justiça Federal, que determinou que os consórcios responsáveis pelas hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, refaçam o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental levando em consideração os impactos decorrentes da vazão e volume histórico do maior afluente do Rio Amazonas.
Ora, isso significa que os estudos feitos até então não levaram em consideração tais impactos? E os órgãos ambientais responsáveis pela aprovação dos estudos, não vão se manifestar?
O Acre sofrerá os efeitos desta alagação por muitos anos. A população perdeu suas plantações, suas casas, poços artesianos foram contaminados. Mas, o mais grave para nosso estado é a constatação do nosso abandono e da indiferença do Brasil para conosco.
Não merecemos, sequer, um sobrevoo de helicóptero por parte da Presidente da República, que, a despeito de pertencer ao mesmo partido político do governador, parece esquecer a existência do Acre.
O nosso Estado é vítima de uma tragédia gerada pela incompetência governamental e sofre com o desinteresse do restante do Brasil, que demonstra não precisar do Acre.
 FONTE http://www.ac24horas.com/2014/03/11/o-brasil-se-importa-com-o-acre/


domingo, 9 de março de 2014

Pedala Rio Branco

 Passeio pelos principais pontos da cidade, para todas as idades, sendo que menores deve está acompanhado do pais. O passeio é divertido e conta com carro de som para animar a turma.

http://www.loopbikes.com.br/grupos/associacao-de-ciclismo-do-acre-acac-rio-branco


segunda-feira, 3 de março de 2014

Hidrelétricas e a cheia do Rio Madeira

Águas Turvas: Conseqüências de Barrar o Maior Afluente do Amazonas analise o projeto hidrelétrico e hidroviário do rio Madeira, na Amazônia Brasileira. Através de artigos sobre a história do projeto, hidrologia e sedimentação, peixes e pesca, mercúrio, e impactos sócio-econômicos, o livro é uma ferramenta importante para comunidades, ativistas, jornalistas, e outros, inclusive as autoridades para aprofundar o seu entendimento de questões chaves afetando o projeto, e também as implicações potenciais da sua construção.
Os autores incluem especialistas no seu campo, e o livro incorpora também diversas opiniões independentes que questionem a viabilidade do projeto. Águas Turvas inclui também os documentos chaves, inclusive declarações dos movimentos sociais, e cartas aos oficiais da campanha para proteger o rio madeira.
Abaixo link para o texto original e acesso a obra:



http://www.internationalrivers.org/pt-br/resources/%C3%A1guas-turvas-alertas-sobre-as-conseq%C3%BC%C3%AAncias-de-barrar-o-maior-afluente-do-amazonas-3967


domingo, 22 de dezembro de 2013

O homem que roubou o Natal de Jesus

No shopping próximo à minha casa, o tema da decoração de Natal é “a floresta encantada de Papai Noel”. Juro que procurei entre as folhagens de plástico, as girafas de pelúcia e os chimpanzés músicos para ver se o achava, mas não encontrei Jesus. Nada de Maria, José, do anjo, dos reis Magos e das cabras, bois e vacas. Nada que se assemelhasse a uma manjedoura. Enfim, nada de Natal na decoração de Natal.
Fiquei pensando quando foi que o menino Jesus deixou de ser protagonista de sua própria festa de aniversário. Jesus, o profeta a quem, pelo menos nas estatísticas, um terço da humanidade dedica sua fé, faz uma ponta no Natal hoje em dia. A figura central, a grande estrela da maior festa do mundo cristão é um velho barbudo de aparência nórdica que só criancinhas acreditam que exista. E, aparentemente, ninguém está nem aí.
O Natal é uma verdadeira cilada. TVs, jornais, familiares, tudo conspira para que você se sinta tomado pelo “espírito natalino”, que se traduz em: se meter em shoppings abarrotados de gente para comprar coisas que sairiam pela metade do preço no mês seguinte. Mesmo que você não queira participar, é obrigado a seguir o fluxo porque não quer que seus filhos cresçam traumatizados por não ganhar presente quando todo mundo recebe –do Papai Noel, claro, aquele gordinho que espera o ano todo por este bico, suarento debaixo da roupa vermelha e da barba branca em pleno verão brasileiro.
Aliás, a disparidade entre o que se construiu como “Natal” no hemisfério Norte e a realidade dos trópicos é um mico à parte. Bonecos de neve de feltro, de gorro, cachecol e cenoura no lugar do nariz, se espalham pelo País e tomam de assalto até as repartições públicas, enquanto as secretárias se abanam de calor. O “jeitinho” brasileiro se desdobra para recriar a atmosfera gélida, condição sine qua non para que o “espírito natalino” baixe, e dá-lhe neve de pipoca, de isopor, de algodão… Tenho certeza que nunca seremos uma nação de fato enquanto precisarmos macaquear um clima que não é nosso para conseguir algo tão singelo quanto o congraçamento familiar.
Não conheço nenhuma festa religiosa no mundo cujas principais manifestações sejam gastar muito dinheiro, comer para caramba e encher a cara. A festa máxima dos cristãos é a festa religiosa mais capitalista do planeta. E olhem que a mensagem de Cristo era o exato oposto. Não foi o filho de Deus quem expulsou os vendilhões do templo? Não foi ele quem disse que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”? Quer mensagem menos capitalista do que esta?
Mas falar dessas coisas é querer estragar a festa, quebrar a “magia” do Natal –muito embora a única visível seja o mágico tilintar das caixas registradoras. Para o comércio, a data é uma bênção. Para as igrejas, o mundo do dinheiro nunca foi exatamente um incômodo e pode, afinal de contas, render belos donativos. Tampouco parece ser um empecilho que os fiéis gastem todo o 13º salário e se endividem em compras, porque depois engrossarão as fileiras dos que procuram as casas de Deus em busca de conforto não para os flagelos da alma, mas do bolso.
Tem igrejas pentecostais que vivem disso, de oferecer aos crédulos a superação das dívidas financeiras e o sucesso econômico através do poder de Deus. De que lhes serviria abrir os olhos dos fiéis e pregar que o Natal não é sinônimo de gastança? Deixa quieto, Papai Noel é bem mais conveniente que Jesus, até porque não fere suscetibilidades. Sem essa de rico não poder entrar no reino dos céus: seja rico ou seja pobre o velhinho sempre vem, não é mesmo? “Compre, compre. Ho, ho, ho”.
Meu lado cristão (de formação) se revolta de ver que o Natal se transformou nessa pseudo festa religiosa, vazia de significado espiritual. Em vez de se incomodar com a vida íntima do próximo, de tentar interferir na orientação sexual do semelhante ou de se empenhar em lutas surreais como a cruzada contra a proteção da camisinha, as igrejas cristãs deviam se dedicar a repensar sua festa mais importante. Se os cristãos fossem de fato cristãos, tinham de estar preocupados que o nascimento de Jesus perdeu o lugar para o consumismo que o Papai Noel representa. Tentar resgatar a mensagem do Natal: esta, sim, seria uma luta de fato agregadora, digna da data e do aniversariante.
Dá para começar em casa, montando o presépio com as crianças como aconteceu no passado e, no mínimo, explicando a elas que o dono da festa não é o Papai Noel, que não é por causa dele que o Natal existe. Quantos cristãos fazem isso?
Boas festas a todos.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

CARTA ABERTA AO POVO DO BRASIL EDWARD SNOWDEN


Seis meses atrás, emergi das sombras da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA para me posicionar diante da câmera de um jornalista. Compartilhei com o mundo provas de que alguns governos estão montando um sistema de vigilância mundial para rastrear secretamente como vivemos, com quem conversamos e o que dizemos.
Fui para diante daquela câmera de olhos abertos, com a consciência de que a decisão custaria minha família e meu lar e colocaria minha vida em risco. O que me motivava era a ideia de que os cidadãos do mundo merecem entender o sistema dentro do qual vivem.
Meu maior medo era que ninguém desse ouvidos ao meu aviso. Nunca antes fiquei tão feliz por ter estado tão equivocado. A reação em certos países vem sendo especialmente inspiradora para mim, e o Brasil é um deles, sem dúvida.
Na NSA, testemunhei com preocupação crescente a vigilância de populações inteiras sem que houvesse qualquer suspeita de ato criminoso, e essa vigilância ameaça tornar-se o maior desafio aos direitos humanos de nossos tempos.
A NSA e outras agências de espionagem nos dizem que, pelo bem de nossa própria "segurança" --em nome da "segurança" de Dilma, em nome da "segurança" da Petrobras--, revogaram nosso direito de privacidade e invadiram nossas vidas. E o fizeram sem pedir a permissão da população de qualquer país, nem mesmo do delas.
Hoje, se você carrega um celular em São Paulo, a NSA pode rastrear onde você se encontra, e o faz: ela faz isso 5 bilhões de vezes por dia com pessoas no mundo inteiro.
Quando uma pessoa em Florianópolis visita um site na internet, a NSA mantém um registro de quando isso aconteceu e do que você fez naquele site. Se uma mãe em Porto Alegre telefona a seu filho para lhe desejar sorte no vestibular, a NSA pode guardar o registro da ligação por cinco anos ou mais tempo.
A agência chega a guardar registros de quem tem um caso extraconjugal ou visita sites de pornografia, para o caso de precisarem sujar a reputação de seus alvos.
Senadores dos EUA nos dizem que o Brasil não deveria se preocupar, porque isso não é "vigilância", é "coleta de dados". Dizem que isso é feito para manter as pessoas em segurança. Estão enganados.
Existe uma diferença enorme entre programas legais, espionagem legítima, atuação policial legítima --em que indivíduos são vigiados com base em suspeitas razoáveis, individualizadas-- e esses programas de vigilância em massa para a formação de uma rede de informações, que colocam populações inteiras sob vigilância onipresente e salvam cópias de tudo para sempre.
Esses programas nunca foram motivados pela luta contra o terrorismo: são motivados por espionagem econômica, controle social e manipulação diplomática. Pela busca de poder.
Muitos senadores brasileiros concordam e pediram minha ajuda com suas investigações sobre a suspeita de crimes cometidos contra cidadãos brasileiros.
Expressei minha disposição de auxiliar quando isso for apropriado e legal, mas, infelizmente, o governo dos EUA vem trabalhando arduamente para limitar minha capacidade de fazê-lo, chegando ao ponto de obrigar o avião presidencial de Evo Morales a pousar para me impedir de viajar à América Latina!
Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir com minha capacidade de falar.
Seis meses atrás, revelei que a NSA queria ouvir o mundo inteiro. Agora o mundo inteiro está ouvindo de volta e também falando. E a NSA não gosta do que está ouvindo.
A cultura de vigilância mundial indiscriminada, que foi exposta a debates públicos e investigações reais em todos os continentes, está desabando.
Apenas três semanas atrás, o Brasil liderou o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas para reconhecer, pela primeira vez na história, que a privacidade não para onde a rede digital começa e que a vigilância em massa de inocentes é uma violação dos direitos humanos.
A maré virou, e finalmente podemos visualizar um futuro em que possamos desfrutar de segurança sem sacrificar nossa privacidade.
Nossos direitos não podem ser limitados por uma organização secreta, e autoridades americanas nunca deveriam decidir sobre as liberdades de cidadãos brasileiros.
Mesmo os defensores da vigilância de massa, aqueles que talvez não estejam convencidos de que tecnologias de vigilância ultrapassaram perigosamente controles democráticos, hoje concordem que, em democracias, a vigilância do público tem de ser debatida pelo público.
Meu ato de consciência começou com uma declaração: "Não quero viver em um mundo em que tudo o que digo, tudo o que faço, todos com quem falo, cada expressão de criatividade, de amor ou amizade seja registrado. Não é algo que estou disposto a apoiar, não é algo que estou disposto a construir e não é algo sob o qual estou disposto a viver."
Dias mais tarde, fui informado que meu governo me tinha convertido em apátrida e queria me encarcerar. O preço do meu discurso foi meu passaporte, mas eu o pagaria novamente: não serei eu que ignorarei a criminalidade em nome do conforto político. Prefiro virar apátrida a perder minha voz.
Se o Brasil ouvir apenas uma coisa de mim, que seja o seguinte: quando todos nos unirmos contra as injustiças e em defesa da privacidade e dos direitos humanos básicos, poderemos nos defender até dos mais poderosos dos sistemas